9 werner patologia geral aplicada a veterinária
O documento fornecido é um arquivo PDF escaneado contendo informações sobre patologia veterinária, especificamente sobre etiologia, agressão à célula e adaptações celulares às agressões. Abaixo está a transcrição fiel do conteúdo do documento:
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### Etiologia 45
**Figura 2.33** – Representação esquemática da intussuscepção intestinal. Ao invaginar-se no segmento imediatamente posterior, a alça invaginada arrasta o mesentério, comprimindo e estrangulando os vasos sanguíneos entre os dois segmentos.
**Figura 2.34** – Intussuscepção. Jejuno. Cavalo. O segmento proximal, que é a porção invaginada (intussusceptum), está à esquerda. À direita está o segmento distal, a porção invaginante (intussusceptens). Na cirurgia, em decorrência do grave comprometimento vascular, as tentativas de redução manual da intussuscepção são quase sempre inúteis; mais frequentemente é necessária a ressecção da alça comprometida.
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### Hérnia
Hérnia é a passagem ou o deslocamento de um órgão ou parte dele através de um orifício natural ou artificial na estrutura que separa as cavidades corporais do meio exterior ou que separa uma cavidade corporal de outra. A nomenclatura de uma hérnia é feita tomando-se por base o órgão herniado (a palavra grega ou latina que o designa), somando-se a ela o sufixo -cele mais o nome do local por onde ocorreu a hérnia (Fig. 2.35). Assim, uma hérnia contendo uma alça intestinal, que ocorreu através do anel inguinal, deve chamar-se enterocele inguinal; a passagem acidental de um lobo hepático para a cavidade torácica é uma hepatocele diafragmática, etc.
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### Prolapso
Prolapso é o protraimento de um órgão através de um orifício natural, em uma situação que lembra a hérnia. A diferença é que, no prolapso, ocorre eversão do órgão. Prolapsos acontecem no reto, na vagina, no útero, no prepúcio e na uretra (Fig. 2.36). O chamado prolapso do globo ocular em cães braquicefálicos não é um prolapso verdadeiro, mas um aparente protraimento do globo que é imobilizado pela fenda palpebral que, por acidente, foi aprisionada posteriormente ao globo. Uma situação semelhante à do globo ocular é a parafimose, em que o óstio prepucial demasiadamente estreito é aprisionado posteriormente à glande peniana e a estrangula.
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### Estrangulamento
Em uma analogia ao ato de estrangular (apertar o pescoço), estrangulamento é o bloqueio do fluxo sanguíneo por pressão externa, provocando isquemia em uma região. Muitos pensam que, para que uma área morra por falta de suprimento sanguíneo, é necessário haver obstrução da artéria regional, esquecendo-se de que o mesmo acontece se houver bloqueio da drenagem venosa. Se não houver drenagem, chegará um ponto em que não haverá mais trocas gasosas nos tecidos, ocorrendo o que se chama de anóxia estagnante. Da mesma maneira que se houvesse sido interrompida a irrigação arterial, a consequência é a morte e necrose dos tecidos. Esse assunto será abordado novamente quando estudarmos as formas da hipóxia e a lesão de reperfusão, no Capítulo 3. A única diferença entre a evolução e as consequências do bloqueio arterial e do bloqueio venoso é o tempo decorrido até que aconteça a morte dos tecidos: é muito mais precoce no primeiro. Caso o bloqueio arterial ou o bloqueio venoso sejam apenas parciais, a estrutura pode sobreviver por tempo suficiente até que se desenvolva circulação colateral e a funcionalidade da região seja restabelecida. As figuras que ilustram os deslocamentos de alças intestinais servem como exemplos de situações nas quais ocorre estrangulamento.
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### Referência Bibliográfica
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV): Resolução 714 de 20 de junho de 2002. Dispõe sobre procedimentos e métodos de eutanásia em animais, e dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, n. 118, p. 201. 2002. Seção 1.
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### Bibliografia
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KOLATA, R. J. Trauma: epidemiology and mechanisms. In: SLATTER, D. Textbook of Small Animal Surgery. 2. ed. Philadelphia: WB Saunders, 1993. Cap. 8, p. 101-105.
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### Capítulo 3: Agressão à Célula
Neste capítulo, estudam-se algumas formas básicas de agressão e as respostas das células quando submetidas a estímulos patológicos ou fisiológicos anormais. O enfoque da discussão será histológico ou celular.
As células e, por extensão, todo o organismo saudável estão sob constante demanda fisiológica, a qual varia constantemente, mas mantém-se em equilíbrio em relação às suas funções e limitações. Esse estado de equilíbrio chama-se **homeostase**. Por meio de sua capacidade de adaptação, as células se acomodam às variações de demanda fisiológica e mesmo a estímulos patológicos de baixa intensidade, com o objetivo de recuperar a homeostase. A capacidade de adaptação das células normais é limitada por fatores ligados à sua especialização e diferenciação, à sua capacidade metabólica, às limitações impostas pelas células vizinhas e à disponibilidade de substratos metabólicos. Em resumo, se a célula é estimulada, ela se adapta para sobreviver; se sua capacidade de adaptação é excedida, ela sofre lesão irreversível e pode morrer (Fig. 3.1). As doenças acontecem quando há perda da homeostase por sucumbência às agressões.
**Figura 3.1** – Esquema representando as respostas da célula a estímulos fisiológicos ou danosos.
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### Adaptação
Adaptação é o novo estado de equilíbrio, diferente do normal, atingido pelas células em resposta aos estímulos fisiológicos alterados ou a certos estímulos patológicos. Ao adaptar-se, a célula continua viável, mas sofre alterações morfológicas e funcionais para adequar-se ao estímulo. Existem quatro formas possíveis de respostas adaptativas: **hiperplasia**, quando há aumento no número das células; **hipertrofia**, quando há aumento no tamanho das células; **atrofia**, quando há diminuição no tamanho e na função da célula; e **metaplasia**, quando há modificação da diferenciação da célula e o tipo celular é substituído por outro, mais resistente. Essas formas de adaptação serão estudadas no Capítulo 4.
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### Lesão
Lesão é a manifestação morfológica da resposta celular à agressão e não necessariamente indica a morte da célula. Embora, de maneira geral e tradicional, lesão signifique alteração morfológica, existem dois conceitos que devem também ser considerados nessa definição. O primeiro é o de **lesão funcional**, quando apenas a função da célula é alterada, sem uma correspondente alteração morfológica evidente. Um segundo conceito é o de **lesão bioquímica**, forma de lesão funcional na qual a alteração é notada apenas ao se medir o padrão metabólico da célula ou do tecido.
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### Lesão Reversível e Irreversível
Até determinado ponto, a lesão é reversível, isto é, a célula sobrevive se a agressão for suspensa. Contudo, quando ultrapassado esse ponto, a lesão torna-se irreversível e a célula morre. Esse ponto varia principalmente segundo a taxa metabólica do tecido. Por exemplo, se o suprimento sanguíneo do músculo cardíaco é interrompido por até 15 minutos, as células são lesadas por hipóxia (manifestada clinicamente por angina pectoris), mas sobrevivem; se o fluxo for interrompido por mais de 20 minutos, a lesão torna-se irreversível e as células morrem, causando infarto do miocárdio. O cérebro resiste a apenas 3 a 5 minutos de privação de oxigênio, enquanto o fígado resiste a 2 horas e a córnea, a várias horas. Assim, quando se diz que uma célula sofreu lesão irreversível, isso significa que ela foi lesada de tal maneira que não há recuperação possível.
A lesão da membrana celular permite extravasamento, para o meio extracelular, de enzimas intracelulares próprias de cada tecido, o que pode ser utilizado como meio de diagnóstico. A demonstração e dosagem dessas enzimas no soro sanguíneo podem indicar, com relativa precisão, qual tecido (órgão) foi lesado. Assim, por exemplo, diagnostica-se o infarto do miocárdio ao se constatar níveis séricos elevados de enzimas próprias do músculo cardíaco, como creatinina quinase (CK), aspartato aminotransferase (AST ou TGO) e desidrogenase láctica (DHL). Para o diagnóstico das doenças do fígado, dosam-se as enzimas aspartato aminotransferase (AST ou TGO) e alanino aminotransferase (ALT ou TGP), que indicam lesões nos hepatócitos, ou a gamaglutamiltransferase (GGT) e a fosfatase alcalina (AP), que indicam lesões nos ductos biliares. A confrontação desses dados com o quadro clínico exibido pelo paciente permite o diagnóstico preciso da doença. Como a quantidade de enzimas extravasadas é proporcional ao grau de lesão da membrana celular e ao número de células lesadas, a dosagem das enzimas permite avaliar a gravidade do processo.
Infelizmente, é impossível determinar o ponto em que a lesão passa de reversível a irreversível. Só o que se conseguiu determinar é que existem dois fenômenos que, uma vez em ação, caracterizam a irreversibilidade da lesão. O primeiro é a incapacidade das mitocôndrias reassumirem sua capacidade normal de fosforilação oxidativa e de gerar adenosina trifosfato (ATP). O segundo são as grandes alterações na função das membranas dos lisossomos, que permitem que suas enzimas vazem para o citosol e causem degradação dos componentes da célula.
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