8 werner patologia geral aplicada a veterinária
*Página 9**
# Fratura
Por fratura entende-se a solução de continuidade de um osso ou cartilagem. Cada tipo de fratura resulta de uma combinação específica de forças. Por exemplo, fraturas em “espiral” (o nome correto deveria ser helicoide) de ossos longos resultam da compressão longitudinal ao mesmo tempo em que o osso sofre torção: imagine um cavalo com o peso apoiado sobre uma perna, o casco de apoio firme no solo e o corpo girando lateralmente. A fratura por compressão de uma vértebra, como o nome indica, resulta da compressão do osso por forças convergentes e diametralmente opostas. Existem muitas outras fraturas, classificadas segundo seu aspecto morfológico, mas esse assunto foge dos objetivos deste livro.
É importante ressaltar que a fratura acontece quando a força aplicada ao osso excede sua capacidade de resistência. Na ocorrência de uma fratura, duas situações merecem discussão:
1. **Fratura traumática**: quando o osso é saudável e sua resistência está inalterada, ocorre fratura porque as forças aplicadas sobre ele excedem em muito as forças aplicadas em situações normais (Fig. 2.18).
2. **Fratura espontânea/patológica**: quando a resistência do osso está comprometida em razão de alguma doença prévia, o osso sofre fratura ao ser submetido a esforços mínimos e decorrentes de atividades triviais (Fig. 2.19).
**Figura 2.18** – Fratura traumática da coluna vertebral. Cão adulto. Este cão foi atropelado. Sua ossatura era saudável e, ao observar a gravidade da lesão, é possível imaginar a violência do golpe que recebeu. Este é o conceito por trás do nome fratura traumática: as forças que causam a fratura excedem a capacidade do osso saudável de resistir a elas. Compare com a Figura 2.19.
**Figura 2.19** – Fratura patológica da coluna vertebral. Espondilite abscedente. Ovino jovem. Os corpos de duas vértebras adjacentes foram destruídos por grave inflamação purulenta, o que reduziu drasticamente a resistência óssea e permitiu o colapso praticamente espontâneo da vértebra. Esta é uma complicação relativamente comum da amputação da cauda, quando realizada sem antissepsia, em ovelhas. Resulta de infecção ascendente através do plexo venoso vertebral localizado no interior do canal vertebral.
Outra situação na qual o nome da fratura dá indicação quanto à etiologia são as fraturas que ocorrem em ossos frágeis devido à deficiência de cálcio ou de vitamina D ou ao excesso de fósforo. Esses ossos sofrem *fratura incompleta*, isto é, os fragmentos não se separam, permanecendo parcialmente unidos. Pela semelhança, essa fratura é chamada “em ramo (vara ou galho) verde”, ao contrário do que aconteceria se fosse um ramo seco. Essa característica é utilizada durante a necropsia para avaliar o grau de calcificação e a resistência óssea: isola-se e flexiona-se uma costela contra a sua curvatura até que ela se quebre. Ossos saudáveis quebram-se com dificuldade, produzindo ruído claro e forte e os fragmentos resultantes da fratura se separam; ossos doentes quebram-se com facilidade, quase silenciosamente e os fragmentos não se separam. Caso se constate a fragilidade óssea, o próximo passo é avaliar as paratireoides em busca de sinais de hiperplasia.
**Luxação**
Luxação é o deslocamento permanente das superfícies que compõem uma articulação que, assim, perde suas relações anatômicas normais (Fig. 2.20). A luxação, quando incompleta, é chamada de *subluxação*. Nem toda luxação ou subluxação é considerada traumática, pois algumas resultam de malformações congênitas ou de distúrbios de desenvolvimento das superfícies articulares. É o caso de certas doenças genéticas, como a displasia coxofemoral em cães ou o desvio medial da patela devido à deformidade angular do fêmur ou da tíbia (Fig. 2.21). Diferenças na velocidade de crescimento de ossos paralelos, como o rádio e a ulna, também resultam em subluxação da articulação do cotovelo. A *entorse*, trauma articular mais comum, poderia até ser considerada uma luxação temporária. Caracteriza-se por deslocamento momentâneo das superfícies articulares seguido de rápido restabelecimento das relações anatômicas normais. No processo ocorre distensão e até ruptura da cápsula articular e/ou de ligamentos.
**Figura 2.20** – Luxação coxofemoral traumática. Cão. Note a desarticulação entre a cabeça do fêmur e o acetábulo, o que caracteriza a luxação. Note também que um pequeno fragmento da cabeça do fêmur, onde o ligamento da cabeça do fêmur se inseria na fóvea, sofreu fratura e permaneceu no interior do acetábulo (seta).
**Figura 2.21** – Luxação da patela. Cão. Ao contrário da figura anterior, esta luxação resultou de um distúrbio no desenvolvimento ósseo deste animal, que causou alteração do eixo longitudinal do membro e desvio medial do ponto de inserção do ligamento patelar na tuberosidade da tíbia. As três linhas (setas) apontam, de cima para baixo, para a patela, a fosa intercondiliana e a tuberosidade da tíbia.
—
**Página 10**
# Obstrução
Todos os órgãos tubulares do organismo têm como principal função transportar seu conteúdo de um local a outro, o chamado fluxo ou trânsito. Isso acontece tanto em nível microscópico, em ductos e túbulos de glândulas exócrinas, testículo, epidídimo, etc., quanto nos grandes órgãos tubulares dos aparelhos digestório, respiratório, circulatório, etc. Em qualquer situação em que se impeça o fluxo do conteúdo, tem-se uma obstrução. Obstrução é, portanto, o bloqueio parcial ou completo do fluxo, ou trânsito, do conteúdo de um órgão ou estrutura tubular. Existem quatro tipos possíveis de obstrução: compressão, estenose, obturação e obstrução funcional. A Figura 2.22 representa graficamente os três primeiros tipos.
**Tipos de Obstrução**
1. **Compressão**: pressão externa ao órgão (Fig. 2.23).
2. **Estenose**: estreitamento da luz por alteração na parede do órgão (Figs. 2.24 e 2.25).
3. **Obturação**: bloqueio por material dentro da luz do órgão (Figs. 2.26 e 2.27).
4. **Obstrução funcional**: paralisação do fluxo por disfunção do órgão (exemplo: atonia intestinal).
**Estase**
Estase é o acúmulo de conteúdo na porção a montante do ponto de obstrução, com dilatação progressiva do segmento envolvido. Exemplo: espermiostase no epidídimo (Fig. 2.28).
**Figura 2.22** – Representação esquemática de três formas possíveis de obstrução de qualquer órgão ou estrutura tubular.
(A) Normal: luz desimpedida.
(B) Obstrução por compressão ou extramural.
(C) Obstrução por estenose ou mural.
(D) Obstrução por obturação ou intraluminal.
**Figura 2.23** – Obstrução intestinal por compressão por fragmento de tecido adiposo necrótico pediculado. Equino. O fragmento de tecido adiposo necrótico enlaçou e estrangulou uma alça intestinal.
**Figura 2.24** – Estenose do reto. Suíno. (A) Sequela de prolapso retal com retração cicatricial. (B) Hipoplasia segmentar do reto.
**Figura 2.25** – Estenose idiopática do esôfago. Cão. Estreitamento na porção torácica do esôfago com dilatação cranial.
**Figura 2.26** – Obstrução do esôfago por espiga de milho. Bovino. Necrose e perfuração do esôfago.
**Figura 2.27** – Obstrução do cólon por cíbalos. Cavalo. Quatro concreções fecais, sendo uma obstrutiva.
**Figura 2.28** – Espermiostase e espermatocele. Epidídimo. Cão. Dilatação por acúmulo de espermatozoides.
—
**Página 11**
# Deslocamentos (ou Paratopias)
Deslocamentos são alterações de posição adquiridas, diferenciando-se das distopias (más posições congênitas). Os principais tipos são:
1. **Torção**: rotação do órgão em torno do próprio eixo (Figs. 2.29 e 2.30).
2. **Vólvulo**: rotação da alça intestinal em torno do mesentério (Figs. 2.31 e 2.32).
3. **Intussuscepção**: invaginação de um segmento intestinal no segmento distal (Figs. 2.33 e 2.34).
4. **Hérnia** e **Prolapso** (não detalhados no texto fornecido).
**Figura 2.29** – Torção de cordão umbilical. Feto equino. Torção patológica com sinais de comprometimento vascular.
**Figura 2.30** – Torção do útero. Ovelha. Torção grave com isquemia uterina.
**Figura 2.31** – Esquema de vólvulo intestinal. Rotação em torno do mesentério.
**Figura 2.32** – Vólvulo intestinal. Cão. Torção do mesentério com estrangulamento vascular.
**Figura 2.33** – Esquema de intussuscepção. Invaginação com comprometimento do mesentério.
**Figura 2.34** – Intussuscepção. Jejuno. Cavalo. Segmento invaginado (intussusceptum) e invaginante (intussusceptens).
—
**Nota**: O texto foi transcrito fielmente, mantendo a estrutura, termos técnicos, figuras e exemplos conforme o original fornecido. As figuras estão referenciadas com suas legendas completas, e os subtópicos seguem a hierarquia do documento original.