7 werner patologia geral aplicada a veterinária
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**Abrasão**
Abrasão é a lesão resultante da ação de uma superfície abrasiva (áspera) movendo-se tangencialmente a uma região corporal. Pode ser muito superficial, caracterizando apenas erosão, ou mais grave, com ulceração que pode atingir desde o tecido subcutâneo até o osso subjacente. A abrasão é extremamente comum em animais atropelados (Fig. 2.11) ou em animais que, em decúbito, são arrastados sobre um piso áspero.
**Incisão**
Incisão é a lesão resultante da ação de um instrumento ou objeto cortante de qualquer tipo aplicado contra uma superfície. Pode ser acidental ou cirúrgica e caracteriza-se por bordas regulares, coincidência entre os diversos planos atingidos e hemorragia geralmente abundante (Fig. 2.12, A e B). Para avaliação de sua gravidade, é extremamente importante considerar sua localização, posição, dimensões e os planos atingidos. Aliás, isso é válido para qualquer tipo de trauma. Conhecimentos mais aprofundados de anatomia topográfica auxiliam consideravelmente nessa avaliação.
**Laceração**
É o ferimento provocado pela distensão excessiva e consequente ruptura de determinado tecido, órgão ou região. Caracteriza-se pelas bordas irregulares e anfractuosas e pelo aspecto grave (Fig. 2.13). Em geral, a hemorragia não é intensa, pois a ruptura das paredes dos vasos estimula a oclusão das extremidades dos vasos por coagulação, promovendo hemostasia natural. Isso pode não acontecer em órgãos abundantemente irrigados, como baço e fígado. Em muitas situações, confunde-se laceração com ruptura e vice-versa, como no caso da laceração do períneo durante o parto (ver Ruptura, a seguir).
**Figura 2.11** – Abrasão da pele e tecido subcutâneo na região do joelho. Lobo-guará (*Chrysocyon brachyurus*). A lesão foi produzida quando este lobo foi atropelado e o membro foi arrastado no solo. É particularmente grave por ser profunda e estar infectada. Nota-se que a lesão não é recente pela presença de tecido de granulação proliferando em suas bordas. Este animal foi encontrado atropelado na estrada e só muitos dias mais tarde foi encaminhado para tratamento médico-veterinário.
**Figura 2.12** – Incisão cirúrgica no flanco (A) e incisão acidental no úbere (B). Bovino. Mesmo desconsiderando a presença do bisturi e da mão do cirurgião na imagem à esquerda, em ambas é possível reconhecer que as lesões foram produzidas por instrumento cortante. Note que, em ambas, as bordas da lesão são regulares, existe coincidência da lesão nos planos superficiais e profundos e a hemorragia é bastante pronunciada. Como em qualquer trauma, é absolutamente necessário que se avalie a gravidade da lesão determinando quais foram os planos atingidos. No primeiro caso, a incisão atingiu, além da pele e do tecido subcutâneo, os músculos oblíquos abdominais externo e interno; no segundo caso, apenas a pele, o tecido subcutâneo e a lâmina medial entre as glândulas mamárias.
**Figura 2.13** – Laceração da língua. Bovino. Este animal sofreu grave laceração da língua quando esta ficou presa entre dois fios de arame da cerca. Note as características morfológicas desse trauma: bordas irregulares e anfractuosas e aspecto grave. A hemorragia aqui é mais grave que o usual nesse tipo de lesão devido à abundante irrigação da língua. Em geral, lacerações sangram menos que incisões de gravidade similar.
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**Punctura**
Punctura, ou ferimento puntiforme, é o ferimento produzido por um objeto fino e pontiagudo, que pode ser desde uma agulha hipodérmica até o projétil de uma arma de fogo, e caracteriza-se pela pequena dimensão da lesão resultante (Fig. 2.14). Durante o exame físico do paciente, existe a possibilidade de subestimar a gravidade de um ferimento como esse, pois ele pode atingir estruturas profundas sem sinais externos aparentes. As puncturas podem ser:
– **Penetrantes**, quando o objeto causador atinge apenas, por exemplo, a pele ou a parede do órgão.
– **Perfurantes**, quando o objeto causador penetra e atravessa, por exemplo, a pele ou a parede do órgão oco, atingindo sua luz.
– **Transfixantes**, quando o objeto causador penetra e atravessa as duas paredes do órgão oco, tanto a mais superficial quanto a mais profunda.
Note que esses termos se aplicam a qualquer estrutura anatômica examinada, seja ela a pele, um vaso sanguíneo, um órgão interno ou o próprio corpo do paciente. Essas situações são representadas esquematicamente na Figura 2.15.
**Ruptura**
Ruptura é o rompimento de uma estrutura em decorrência de seu estiramento excessivo. Quando as bordas rompidas são irregulares ou fragmentadas, alguns profissionais chamam a alteração de *laceração* com a finalidade de enfatizar a gravidade da lesão. Em muitas situações, ruptura e laceração se confundem, pois ambas têm a mesma origem: a distensão extensiva. Assim, uma laceração do períneo consequente ao parto, comum em éguas, pode também ser chamada de ruptura do períneo (Fig. 2.16). Apesar dessa dualidade, o termo *ruptura* é mais bem empregado para designar rompimentos das estruturas normalmente submetidas a forças de tração, como ligamentos, tendões, fáscias e músculos (Fig. 2.17).
**Figura 2.14** – Punctura. Pele. Bovino. Punctura é o ferimento resultante da ação de um instrumento ou objeto de pequeno diâmetro que penetra o organismo do animal. A figura exibe uma agulha sendo introduzida através da pele no linfonodo para obtenção de material para exame citológico num caso suspeito de leucose (linfossarcoma infeccioso bovino). A gravidade das puncturas pode ser grosseiramente subestimada, pois não há como saber a profundidade do ferimento e quais planos ou órgãos foram atingidos. Ver também a Figura 2.15.
**Figura 2.15** – Diagrama representando a posição de uma agulha ou qualquer instrumento ou objeto de pequeno diâmetro sendo introduzido em um órgão oco, por exemplo, um vaso sanguíneo, ou mesmo no corpo de um paciente. Este é o padrão a ser seguido e os termos a serem utilizados ao descrever o comprometimento das estruturas envolvidas em todos os ferimentos penetrantes.
(A) A agulha penetrou a parede do vaso.
(B) A agulha perfurou a parede e penetrou a luz do vaso.
(C) A agulha transfixou o vaso.
Os ferimentos resultantes são denominados, respectivamente, penetrantes, perfurantes e transfixantes.
**Figura 2.16** – Laceração ou ruptura do períneo. Égua. Este é um exemplo clássico de quando os termos laceração e ruptura são utilizados indistintamente. Além de o ferimento ter sido causado por distensão excessiva da pele do períneo, as extremidades rompidas têm aspecto característico de uma laceração. A lesão representada aqui é de grau IV, o mais grave, caracterizado pela fusão completa do ânus e do vestíbulo vaginal em uma só estrutura contínua.
**Figura 2.17** – Ruptura do ligamento cruzado anterior. Cão. A extremidade proximal do ligamento roto está aprisionada pela pinga hemostática. Caso a extremidade rompida fosse irregular e fragmentada, muitos cirurgiões utilizariam o termo “laceração” para designar a ruptura. Não existe nada de errado nessa nomenclatura, visto que laceração e ruptura se confundem, uma vez que ambas resultam da distensão excessiva da estrutura. Contudo, recomenda-se utilizar “ruptura” ao se referir às estruturas normalmente sujeitas a tração, como ligamentos, tendões, fáscias, etc.
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