5 werner patologia geral aplicada a veterinária
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# 20 Etiologia
**Insolação**
É um termo empregado apenas para a hipertermia resultante da exposição excessiva aos raios solares. Quando a umidade do ambiente é alta, os efeitos da hipertermia são mais acentuados. Em qualquer das formas, quando a temperatura central do corpo excede aproximadamente 42°C, cessa a atividade enzimática e ocorre, inclusive, desnaturação de enzimas, podendo a morte acontecer rapidamente. As lesões observadas à necropsia, embora inespecíficas, caracterizam-se por hiperemia, congestão generalizada – mais intensa nos pulmões e na mucosa respiratória – e edema pulmonar. A autólise post mortem é mais precoce e intensa, principalmente em cães e suínos, e as lesões histológicas são compatíveis com as observações macroscópicas. Em vista da inespecificidade das lesões, para o diagnóstico é absolutamente necessário conhecer-se a história clínica.
**Febre**
Febre é apenas um sinal, não uma doença; portanto, sua discussão aqui parece inadequada. No entanto, já que mencionamos que as hipertermias devem ser diferenciadas da febre, vamos discuti-la rapidamente. Febre é um sinal clínico sistêmico da fase aguda da inflamação, caracterizado por aumento da temperatura central em resposta à ação de citocinas no hipotálamo. É uma reação aparentemente de proteção que já foi provocada experimentalmente até em peixes, répteis e anfíbios. Muitos recém-nascidos, como bebês, cordeiros e porquinhos-da-índia, não exibem febre na presença de infecções. O papel da febre no animal doente ainda não foi bem elucidado, mas parece evidente que a capacidade de reagir com febre às infecções tem efeitos benéficos, senão essa resposta não seria preservada durante a evolução em tantas espécies animais. A febre tem várias características específicas que a diferenciam das outras formas de hipertermia:
– A elevação da temperatura corporal é feita somente por termorregulação, em resposta à ação de citocinas no hipotálamo.
– O indivíduo febril, seja homem ou animal, especialmente no início da febre, procura e sente-se mais confortável em ambientes mais aquecidos.
– A temperatura é mantida mais elevada por um sistema termorregulador completamente funcional, como se o termostato natural fosse regulado para uma temperatura mais elevada.
– Drogas antipiréticas, como o ácido acetilsalicílico, podem baixar a temperatura corporal.
**Queimaduras**
Por queimadura entende-se a desnaturação local de proteínas em decorrência do aumento da temperatura a partir do exterior. Macroscopicamente e segundo a sua gravidade, as queimaduras externas da pele classificam-se em:
– **Primeiro grau**: lesão leve, com apenas eritema (avermelhamento) da pele.
– **Segundo grau**: a lesão restringe-se à epiderme e caracteriza-se, além de eritema, pela presença de vesículas.
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– **Terceiro grau**: há necrose de todas as camadas da pele, atingindo e comprometendo inclusive o tecido subcutâneo.
– **Quarto grau**: há carbonização da pele.
Microscopicamente, as queimaduras externas de segundo grau são reconhecidas por necrose de coagulação da epiderme, com graus variados de espongiose e formação de vesículas subepidermais. Com a evolução do processo, formam-se crostas compostas de proteínas desidratadas e neutrófilos. As queimaduras de terceiro grau caracterizam-se por necrose de todas as camadas da pele, atingindo o colágeno da derme, glândulas anexas, folículos pilosos e vasos sanguíneos. Invariavelmente, esses casos resultam em cicatriz (Fig. 2.4). Casos mais graves exibem necrose inclusive do tecido adiposo subcutâneo. Muitas vezes, observa-se trombose dos vasos sanguíneos.
**Hipotermia**
Apesar de vivermos em uma região de temperaturas amenas, a hipotermia é muito mais comum do que se pensa. Animais recém-nascidos ainda não têm boa capacidade de termorregulação e morrem se não forem aquecidos. Isso acontece com ninhadas inteiras de leitões, bem como com pintainhos. Animais anestesiados, inconscientes ou imobilizados sobre mesas metálicas, sobretudo se estiverem molhados, também sofrem hipotermia frequentemente. Aliás, a hipotermia está por trás de muitos insucessos nos pós-operatórios. Em temperaturas corporais iguais ou menores que 35°C, toda a atividade metabólica cessa, inclusive a metabolização dos anestésicos injetáveis.
**Congelamento**
No Brasil, as temperaturas ambientes não são suficientemente baixas para causar congelamento de extremidades, mas nunca se pode subestimar a possibilidade de sua ocorrência em situações excepcionais. Ao congelamento das extremidades segue-se a gangrena, que será vista no Capítulo 7. O congelamento intencional, geralmente por nitrogênio líquido (crioterapia), é uma forma de terapia muito utilizada para o tratamento de neoplasias cutâneas, como os fibropapilomas e o sarcoide equino.
**Pressão Atmosférica**
É muito improvável a ocorrência de lesões consequentes à pressão atmosférica em medicina veterinária. Em pessoas, existe a embolia gasosa dos mergulhadores, consequente a mudanças súbitas da pressão atmosférica durante a ascensão rápida de mergulhos profundos ou prolongados. Uma curiosidade: no passado, o quadro clínico resultante desse tipo de embolia era conhecido como *bends* ou doença de *caisson*. O termo *bends* vem da posição assumida pelo doente, que se curva de dor, numa posição semelhante à assumida pelas damas na dança medieval de mesmo nome; *caisson* eram as caixas estanques que permitiam o trabalho subaquático na construção de túneis e fundação de pontes. Trabalhadores que passavam muitas horas nessas caixas frequentemente ficavam paraplégicos, e só mais tarde se descobriu que a causa da paralisia era embolia gasosa na medula espinhal.
**Pressão Localizada**
A pressão localizada provoca diminuição no aporte sanguíneo e, como consequência, atrofia progressiva. Se a compressão for mais intensa, provoca morte e necrose isquêmica das células da região. Um exemplo são as úlceras de decúbito, áreas de morte e necrose da pele sobre proeminências ósseas consequentes ao decúbito prolongado (Fig. 2.5), ou lesões similares no esôfago consequentes às obstruções por corpo estranho (Fig. 2.6).
**Luz**
A radiação luminosa, principalmente a luz ultravioleta (UV), produz uma série de alterações na pele e nas mucosas expostas, as chamadas lesões actínicas. *Actínica* refere-se a qualquer tipo de radiação, não apenas à UV. Alguns exemplos de lesões actínicas são descritos a seguir.
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**Figura 2.4** – Queimadura de terceiro grau da pele. Gato doméstico. Essa queimadura localizava-se próximo à linha mediana dorsal e suspeita-se que tenha sido causada pela almofada térmica da mesa cirúrgica. Queimaduras dessa gravidade atingem toda a espessura da pele e sua reparação sempre resulta em cicatriz. O detalhe, no canto inferior esquerdo, exibe a mesma lesão seis semanas mais tarde. Felizmente, em virtude da contração do ferimento e da cobertura de pelos do animal, a cicatriz resultante ficou quase invisível. Foto: Dra. Juliana Werner.
**Figura 2.5** – Úlcera de decúbito. Lobo-guará (*Chrysocyon brachyurus*). Este é o mesmo animal das Figuras 2.9 e 2.11, que foi atropelado e ficou muitos dias sem receber tratamento médico. O decúbito prolongado frequentemente causa lesões como esta na pele sobre proeminências ósseas – neste caso, o côndilo umeral esquerdo – em decorrência da isquemia causada por pressão localizada. Pode-se observar uma espessa crosta sobre o ferimento, o que motiva o nome alternativo de “escara de decúbito” para a lesão.
**Figura 2.6** – Necrose de coagulação do epitélio consequente à obstrução do esôfago. Bovino. O esôfago foi incisado longitudinalmente e pode-se observar área de necrose em forma de cintura correspondente à localização de um corpo estranho que obturava a luz do órgão. Esse tipo de lesão resulta da pressão localizada exercida pelo corpo estranho, o que causa isquemia e necrose do epitélio.
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