4 werner patologia geral aplicada a veterinária

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*Idade.* É verdade que a idade não mata ninguém; quem mata o indivíduo velho são as doenças que acompanham a velhice. Contudo, existem doenças que são próprias ou mais prevalentes na velhice, da mesma maneira que existem doenças próprias da juventude. As neoplasias, em geral, atingem ou os indivíduos mais jovens ou os indivíduos mais velhos, sendo menos comuns nas faixas etárias intermediárias. O mesmo vale para muitas outras doenças, principalmente, às desencontros e às resultantes da senescência dos mecanismos de reparação de danos no ácido desoxirribonucleico (DNA, *deoxyribonucleic acid*) e dos danos causados por radicais livres.

*Gênero.* Existem muitos exemplos de doenças cuja incidência é maior em um dos gêneros. Talvez o exemplo mais dramático seja o dos tumores da glândula mamária, que, apesar de ocorrerem com frequência absolutamente maior nas fêmeas, não são exclusividade do gênero. Embora incomuns, eles ocorrem, sim, nos indivíduos do gênero masculino. Todo macho tem glândulas mamárias rudimentares e esses resquícios de tecido glandular podem desenvolver neoplasia. Os únicos machos que não têm mamilos são os equídeos.

*Cor.* A prevalência de muitas doenças depende da pigmentação da pele e dos pelos do indivíduo. Cavalos tordilhos, isto é, cuja pelagem é negra quando jovens e branca quando mais velhos, apresentam altíssima incidência de melanomas, principalmente na região do períneo (Fig. 2.1). Diz-se que 100% dos cavalos tordilhos apresentariam melanomas caso se permitisse que vivessem o suficiente. Outro exemplo são as doenças consequentes à radiação solar, cuja prevalência é evidentemente maior nos indivíduos de pele e pelos claros. Cães da raça Pit Bull, de pelagem frequentemente branca, têm grande incidência de dermatites actínicas (Fig. 2.2). Esses cães sentem grande prazer em deitar-se com a barriga exposta ao sol, e esse é o local de maior incidência de carcinomas nessa raça. Gatos brancos e ovelhas de pelagem clara também têm grande incidência de dermatite actínica e, por conseguinte, de carcinomas espinocelulares na extremidade das orelhas (ver Cap. 9). Em ovelhas, o pavilhão das orelhas, por ser desprovido de lã, é mais suscetível a queimaduras solares repetidas. Além disso, as dermatites actínicas podem estar ligadas à fotossensibilização de origem hepática.

*Imunodeficiências congênitas.* Animais imunodeficientes têm maior suscetibilidade a infecções causadas por qualquer agente infeccioso. Algumas doenças congênitas envolvem o sistema imunitário, como a imunodeficiência congênita combinada (B e T) dos potros da raça Árabe, cujos portadores morrem muito cedo, em geral por adenovirose. Esse tipo de imunodeficiência pode, portanto, ser considerado um fator intrínseco predisponente de origem racial.

### Fatores Extrínsecos
*Nutrição.* A desnutrição predispõe o indivíduo a doenças. Dietas hipoproteicas induzem imunodeficiência relativa que aumenta a suscetibilidade do indivíduo

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**Etiologia 17**

**Figura 2.1 – Melanoma. Cavalo. Cada um dos nódulos evidentes em torno do ânus e na região inferior da cauda desse paciente é um melanoma. A prevalência de melanomas em cavalos tordilhos, sobretudo no períneo, é extremamente alta, podendo chegar a 100% em animais idosos. Foto: Dr. Arnaldo Garcez de Barros Jr.**

**Figura 2.2 – Dermatite actínica. Cão da raça Pit Bull. Actínica refere-se ao fato de a lesão resultar da exposição à radiação ultravioleta da luz solar. Cães de pelagem branca que ficam bastante tempo deitados ao sol desenvolvem essa dermatite que, frequentemente, evolui para neoplasias da pele. Foto: Dra. Juliana Werner.**

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**18 Etiologia**

**Figura 2.3 – Osteodistrofia fibrosa secundária nutricional. Gato adulto. Neste paciente, a osteopenia foi causada por alimentação com dieta muito rica em fósforo e pobre em cálcio, composta basicamente de carne e arroz, durante o crescimento do animal. Como resultado, os ossos tornaram-se frágeis e suscetíveis a fraturas espontâneas, o que pode ser comprovado pela deformação dos fêmures, consequência de fraturas já consolidadas.**

a doenças infecciosas. A falta de vitamina D ou de cálcio ou o excesso de fósforo na dieta predispõe o indivíduo a fraturas ósseas (Fig. 2.3). Além de predisponente, a nutrição também é um fator determinante de doenças.

*Caquexia.* É a desnutrição extrema. Muito mais que a desnutrição relativa, a caquexia predispõe o indivíduo a doenças graves.

*Umidade e temperatura.* Em razão de fatores principalmente ligados ao estresse, indivíduos submetidos a condições adversas de umidade e temperatura apresentam maior incidência de doenças. Esses fatores são muito importantes em grandes criações de aves de corte ou postura.

*Estresse.* O estresse é o conjunto de reações do organismo a agressões de qualquer natureza capazes de perturbar sua homeostase. Na realidade, o estresse é benéfico e desejável, pois ajuda a garantir a sobrevivência do indivíduo. O problema ocorre quando as reações são desproporcionais, muito intensas ou prolongadas. A principal consequência é diminuição da imunidade e da capacidade de reagir a agentes infecciosos. Entre as situações mais comuns de

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estresse em animais estão captura, contenção transporte, proximidade forçada a animais estranhos ao grupo, superpopulação, alojamento fora da zona de conforto térmico e doenças infecciosas.

*Drogas e substâncias imunossupressoras.* A terapia com drogas antineoplásicas ou corticosteroides induz imunodeficiência. Da mesma maneira, algumas substâncias tóxicas também têm efeito deletério sobre o sistema imunitário, como alguns derivados de mercúrio, iodo, chumbo e cádmio e o inseticida diclorodifeniltricloroetano (DDT).

*Doenças imunossupressoras.* Muitas doenças virais atingem, direta ou indiretamente, o sistema imunitário e deixam o indivíduo suscetível a infecções secundárias. São exemplos a leucemia felina e a imunodeficiência felina – ambas causadas por retrovírus similares ao vírus da imunodeficiência humana –, a doença de Gumboro em aves, a diarreia viral bovina, a parvovirose em cães e gatos e a cinomose em cães, entre outras.

### Fatores Determinantes

Ao contrário dos predisponentes, fatores determinantes são aqueles que, diretamente, causam a doença.

#### Nutrição
O papel da nutrição na origem das doenças é muito importante em medicina veterinária. Ela tanto pode ser um fator predisponente quanto um fator determinante de doenças. Como fator determinante, os melhores exemplos são as deficiências nutricionais em geral que, em si, são consideradas doenças, como as hipovitaminoses em geral. Outro exemplo clássico é o excesso de fósforo na alimentação, causando hiperplasia e aumento da secreção hormonal das paratirocides, com todas as consequências diretas e indiretas que advêm da hiperfunção glandular (ver Fig. 2.3).

#### Temperatura
**Hipertermia e Febre**
Hipertermia é o aumento da temperatura central. Não se deve confundi-la com a febre que, apesar de ser uma forma de hipertermia, é uma resposta fisiológica e desejável, não uma doença. Na realidade, considera-se hipertermia todos os aumentos de temperatura corporal cujas características não sejam compatíveis com a definição de febre (ver a seguir). Existem dois tipos de hipertermia: **intermação** e **insolação**.

*Intermação.* É a hipertermia resultante da geração interna de calor que excede a capacidade de dissipação para o exterior, como a resultante de atividade muscular ou de tetania, ou quando o organismo adquire calor a partir do meio externo, mas não por incidência direta dos raios solares.

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**20 Etiologia**

*Insolação.* É um termo empregado apenas para a hipertermia resultante da exposição excessiva aos raios solares. Quando a umidade do ambiente é alta, os efeitos da hipertermia são mais acentuados. Em qualquer das formas, quando a temperatura central do corpo excede aproximadamente 42°C, cessa a atividade enzimática e ocorre, inclusive, desnaturação de enzimas, podendo a morte acontecer rapidamente. As lesões observadas à necropsia, embora inespecíficas, caracterizam-se por hiperemia, congestão generalizada – mais intensa nos pulmões e na mucosa respiratória – e edema pulmonar. A autólise *post mortem* é mais precoce e intensa, principalmente em cães e suínos, e as lesões histológicas são compatíveis com as observações macroscópicas. Em vista da inespecificidade das lesões, para o diagnóstico é absolutamente necessário conhecer-se a história clínica.

**Febre** é apenas um sinal, não uma doença; portanto, sua discussão aqui parece inadequada. No entanto, já que mencionamos que as hipertermias devem ser diferenciadas da febre, vamos discuti-la rapidamente. Febre é um sinal clínico sistêmico da fase aguda da inflamação, caracterizado por aumento da temperatura central em resposta à ação de citocinas no hipotálamo. É uma reação aparentemente de proteção que já foi provocada experimentalmente até em peixes, répteis e anfíbios. Muitos recém-nascidos, como bebês, cordeiros e porquinhos-da-fndia, não exibem febre na presença de infecções. O papel da febre no animal doente ainda não foi bem elucidado, mas parece evidente que a capacidade de reagir com febre às infecções tem efeitos benéficos, senão essa resposta não seria preservada durante a evolução em tantas espécies animais. A febre tem várias características específicas que a diferenciam das outras formas de hipertermia:

– A elevação da temperatura corporal é feita somente por termorregulação, em resposta à ação de citocinas no hipotálamo.
– O indivíduo febril, seja homem ou animal, especialmente no início da febre, procura e sente-se mais confortável em ambientes mais aquecidos.
– A temperatura é mantida mais elevada por um sistema termorregulador completamente funcional, como se o termostato natural fosse regulado para uma temperatura mais elevada.
– Drogas antipiréticas, como o ácido acetilsalicílico, podem baixar a temperatura corporal.

**Queimaduras**
Por queimadura entende-se a desnaturação local de proteínas em decorrência do aumento da temperatura a partir do exterior. Macroscopicamente e segundo a sua gravidade, as queimaduras externas da pele classificam-se em:

– **Primeiro grau**: lesão leve, com apenas eritema (avermelhamento) da pele.
– **Segundo grau**: a lesão restringe-se à epiderme e caracteriza-se, além de eritema, pela presença de vesículas.

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