2 werner patologia geral aplicada a veterinária​

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# Diagnóstico Presuntivo

Quando o diagnóstico definitivo, por qualquer razão, ainda não pode ser definido, emite-se o diagnóstico presuntivo, um diagnóstico apenas de presunção ou suspeição. Alguns o denominam *diagnóstico provisório*, que, por indicar apenas uma suspeita, depende de confirmação posterior.

# Reconhecimento das Lesões

Existem muitas alterações não patológicas que simulam lesões e podem confundir o profissional, por isso chamadas de *falsas lesões*. Dessa maneira, o exercício do diagnóstico em patologia deve se iniciar pelo reconhecimento se a alteração examinada é ou não resultante de um processo mórbido, ou seja, se é ou não uma lesão. Para isso, ao se deparar com uma alteração supostamente patológica, antes de considerá-la uma lesão deve-se responder três questões sequenciais:
(1) *É normal?*;
(2) *É um artefato?*;
(3) *É uma alteração* post mortem?

1. *É normal?* Várias particularidades anatômicas – normais, portanto – podem ser confundidas com lesões ao serem vistas pela primeira vez. Um exemplo clássico é o *tórulo do piloro* (Fig. 1.1), muito desenvolvido em suínos e um pouco menos em bezerros, e que alguns estudantes costumam confundir com tumoração capaz de causar obstrução gastrintestinal. Situações semelhantes acontecem, por exemplo, ao se palpar membros ou examinar radiografias, quando algumas características ou acidentes anatômicos deixam dúvidas se são ou não normais.

2. *É um artefato?* Artefatos são alterações resultantes de fatores não ligados ao processo patológico; alguns deles podem ser confundidos com lesões. Por exemplo, rupturas ou deslocamentos de vísceras, ou mesmo ferimentos resultantes do manuseio do cadáver, simulam lesões. Vários sinais permitem comprovar se a alteração é ou não um artefato. A presença de hemorragia ou de fibrina nas bordas do ferimento ou ruptura, por exemplo, é um sinal claro de que a alteração aconteceu antes da morte do animal, não sendo um artefato, mas uma lesão, portanto. Outro sinal é a distribuição do conteúdo extravasado do órgão roto: nas rupturas *post mortem* o conteúdo extravasado coleciona-se apenas na vizinhança do órgão roto, enquanto nas rupturas *antemortem* o conteúdo espalha-se por toda a cavidade peritoneal, por exemplo.

3. *É uma alteração* post mortem? Várias alterações resultantes dos processos normais se instalam no cadáver em consequência da morte (alterações cadavéricas) e podem simular lesões. São exemplos clássicos o acúmulo de sangue nas partes baixas do corpo, a congestão hipostática (que, no pulmão, pode ser confundida com pneumonia e, nas mamas, pode ser confundida com mastite), o timpanismo ruritual (que, além de ser uma alteração *post mortem* muito

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frequente, pode ser também uma lesão responsável pela morte do paciente) e o destacamento da mucosa ruminal (que, apesar de ser uma alteração *post mortem*, ocorre mais precocemente em animais que sofreram fermentação do conteúdo ruminal). Em virtude da importância das alterações *post mortem*, todo um capítulo deste livro será dedicado ao seu estudo, onde poderão ser encontradas várias figuras que ilustram as alterações mencionadas.

Se as respostas àquelas três perguntas forem negativas, a alteração observada é uma lesão. Resta agora identificá-la e estabelecer sua relevância, pois muitas lesões não devem ser levadas em consideração por não terem a menor importância no quadro clínico do paciente.

## Descrição das Lesões

Antes de ser interpretada, toda lesão deve ser descrita. Em relatórios de necropsias executadas por patologistas, é praxe a descrição minuciosa das lesões encontradas, fato que não costuma acontecer em necropsias realizadas por clínicos, o que é perfeitamente compreensível. Deve-se ter em mente que a descrição das lesões é um excelente exercício de aprendizado e que, com a repetição do procedimento, a capacidade de perceber os detalhes mais sutis aumenta muito e permite diagnósticos mais precisos. Assim, na impossibilidade de escrever a descrição,

**Figura 1.1 – Tórulo do piloro. Bovino. A palavra tórulo (tórus) indica uma projeção anatômica, ou um aumento de volume localizado, com forma que lembra um mamilo. Suínos e ruminantes apresentam um tórulo carnoso bem desenvolvido e revestido de mucosa localizado no piloro (seta). O tórulo do piloro não tem função definida, provavelmente atuando como parte do mecanismo valvular que controla o fluxo de conteúdo que passa do estômago para o duodeno. Não raramente o tórulo duodenal é confundido com algum tipo de tumoração, geralmente neoplasia, durante a realização de necropsia por pessoas inexperientes.**

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**6 Introdução à Patologia Animal**

deve-se ao menos fazer uma descrição mental das lesões. Não existe uma sequência ou um padrão a ser obedecido; contudo, sempre que possível e quando aplicável, localização, cor, tamanho, volume, peso, forma, consistência, número, extensão, conteúdo, odor, distribuição e tempo de evolução são características que devem ser descritas.

**Localização.** Mencionar exatamente onde a lesão se localiza utilizando termos anatômicos corretos ou apropriados. Deve-se notar se as lesões localizadas bilateralmente no corpo são ou não simétricas. Em geral, simetria na distribuição das lesões indica causa sistêmica e que elas não foram ocasionadas por um fator de ação apenas local.

Para maior precisão nas descrições e mesmo para aprendizado continuado, recomenda-se revisar os planos anatômicos e os termos direcionais que indicam a posição e a direção das estruturas anatômicas em relação ao corpo do animal, como mediano, sagital, dorsal, ventral, caudal, anterior, rostral, aboral, coronal, etc.

**Cor.** Embora a percepção de cores seja absolutamente subjetiva e individual, a menção das cores observadas auxilia na interpretação. Devem-se usar as cores básicas e, quando necessário, qualquer combinação de cores para descrever a cor de, por exemplo, fluidos corporais, de maneira a dar uma ideia muito aproximada à realidade, como amarelo, amarelado ou amarelo citrino, etc.

**Tamanho.** Informar o tamanho em centímetros, de preferência medindo a lesão com uma régua. Muitos patologistas marcam a lâmina da faca de necropsia a cada 0,5cm e usam-na para medir o que for necessário. Medidas comparativas, como “do tamanho de um ovo de pata” ou “do tamanho de uma bola de golfe”, devem ser evitadas. É possível que quem leia a descrição nunca tenha visto um ovo de pata ou uma bola de golfe. Pelo mesmo motivo, a exatidão, não se devem usar expressões subjetivas, como grande, enorme ou pequeno, para descrever o tamanho da lesão, pois o conceito de apreciação do tamanho varia entre as pessoas.

**Volume.** Informar a quantidade de fluido presente em mililitros ou litros. Em razão da dificuldade de efetivamente medir o volume em certas situações, na maioria das vezes informa-se uma medida aproximada. Novamente, devem-se evitar avaliações subjetivas, como muito, pouco, grande volume ou pequeno volume.

**Peso.** Sempre que possível, informar o peso exato do órgão ou da alteração. Aliás, a balança é um instrumento absolutamente necessário tanto na sala de exames quanto na sala de necropsias. Na impossibilidade de pesar o órgão ou a lesão, informar seu peso aproximado. Também é necessário conhecer ou informar o peso corporal do animal. A informação de que o fígado pesa 2kg não tem o menor valor se não se conhece o peso ou, pelo menos, o porte do paciente.

**Forma.** Usar formas facilmente identificáveis para comparar a lesão, como esférico, ovoide, plano, nodular, fusiforme, discoide, pediculado, séssil, etc.

**Scanned by CamScanner**

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**Introdução à Patologia Animal 7**

**Figura 1.2 – Pulmão. Bovino adulto. Broncopneumonia localmente extensiva restrita à região cranioventral do pulmão, atingindo mais de 50% do órgão. A lesão, apesar de extensa, limita-se aos lobos craniais e é característica das pneumonias por *Mannheimia (Pasteurella) haemolytica* que acometem bovinos debilitados por situações estressantes, como transporte ou agrupamento com animais desconhecidos, por exemplo, situações comuns em feiras agropecuárias.**

**Consistência.** Geralmente, por consistência entende-se a firmeza do órgão ou da lesão. Embora seja importante para quaisquer órgãos parenquimatosos, nos pulmões e nas mamas a avaliação da consistência é imprescindível, uma vez que a inflamação desses órgãos pode ser diagnosticada apenas pela palpação. Na descrição da consistência, sugere-se usar a seguinte escala: macio, firme ou duro. Como orientação, pode-se fazer a seguinte comparação: macio como seus próprios lábios, firme como a ponta de seu nariz ou duro como sua testa. A consistência também é utilizada para descrever a fluidez ou o grau de solidez de conteúdos, como fluido, pastoso, semissólido, sólido, arenoso, rochoso, etc.

**Número.** Por número subentende-se a quantidade de lesões similares presentes. Para números pequenos, de 1 a 10, ou mesmo 20, por exemplo, devem-se usar números exatos. Para números maiores, deve-se informar o número aproximado de dezenas ou mesmo de centenas. Sempre que possível, deve-se evitar a utilização de termos subjetivos, como muitos, numerosos ou poucos.

**Extensão.** Indicar a porcentagem ou a razão (um terço, três quintos, etc.) do órgão afetado pela lesão em questão. Muitas doenças caracterizam-se pela extensão das lesões. Por exemplo, a consolidação de aproximadamente dois terços das regiões cranioventrais do pulmão é característica da broncopneumonia por *Mannheimia (Pasteurella) haemolytica* em bovinos (Fig. 1.2). Quando as lesões são múltiplas ou numerosas, deve-se referir à extensão atingida pelo conjunto das lesões, e não à extensão das lesões em particular.

**Scanned by CamScanner**

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