17 werner patologia geral aplicada a veterinária

O documento fornecido é um arquivo PDF escaneado que contém informações sobre anomalias no desenvolvimento e acúmulos ou deposições de substâncias em animais. Abaixo está a transcrição fiel do conteúdo, incluindo todos os assuntos e conteúdos apresentados:

### Anomalias no Desenvolvimento

#### Figura 5.19 – Ciclopia. Feto ovino.
Este feto, cuja mãe foi alimentada com *Veratrum californicum* em torno do 14º dia de gestação, apresenta grave deformação na face e ciclopia. Ciclopia é a presença de uma estrutura ocular única, grande e deformada no centro da face, resultante da fusão dos dois globos oculares.

#### Figura 5.20 – Rim em ferradura. Gato.
União dos rins por um dos polos. Essa união pode ser muito tênue. A alteração, que ocorre em qualquer espécie animal, não causa sinais clínicos e seu diagnóstico quase sempre é acidental, durante necropsia, abate ou laparotomia.

#### Deslocamento de Órgãos
O deslocamento de órgãos constitui as distopias ou ectopias congênitas, em que o órgão se desenvolve em local anômalo. Isso não deve ser confundido com as paratopias, discutidas no Capítulo 2. São exemplos a ectopia cordis cervicalis e as heterodoxias, vísceras em posição anômala, mas simétrica, como a dextrocardia e a persistência do arco aórtico direito. Esta última ocorre, geralmente, em cães e causa obstrução por compressão do esôfago, o qual fica aprisionado entre o ducto arterioso, a aorta e a artéria pulmonar. Muitas vezes, as ectopias congênitas são achados acidentais durante necropsias ou abate de animais porque, apesar da posição anômala, a funcionalidade do órgão não costuma ser comprometida (Fig. 5.21).

#### Deslocamento de Tecidos
A ectopia ou heterotopia tecidual é a presença anormal de um tecido em alguma região diversa da original. São os coristomas, em que o tecido ectópico é morfo e funcionalmente normal (por exemplo, cistos dermoides na córnea, conjuntiva ou língua; cistos dentíferos no osso temporal de equinos; coristoma suprarrenal no ovário de éguas; coristoma pancreático no estômago; coristoma da tireoide na língua, etc. [Figs. 5.22 e 5.23]). Como já discutido, os coristomas são funcionais, isto é, suas células secretam os mesmos produtos, sofrem os mesmos ciclos e produzem os mesmos hormônios que o tecido de origem. Além disso, muitas vezes sofrem transformação neoplásica e dão origem a neoplasias em locais totalmente inesperados.

**Atenção:** não confundir coristomas com hamartomas. Ambos são congênitos; no entanto, os coristomas representam tecido ectópico, ao passo que os hamartomas representam tecido em excesso, mas localizado no próprio órgão de origem. Por isso podem ser confundidos com neoplasias, diferenciando-se destas por serem congênitos.

#### Figura 5.21 – Ectopia renal. Tigre.
Note o rim esquerdo ectópico localizado na cavidade pélvica, em posição caudal em relação à bexiga urinária. Esse animal não apresentava qualquer sinal clínico que levasse a suspeitar da alteração.

#### Figura 5.22 – Coristoma cutâneo na conjuntiva. Cão.
Os coristomas cutâneos são os mais comuns. Coristoma é a presença de tecido saudável e funcional em locais onde não seria esperado. Nesta foto, observa-se a presença de um foco de pele com pelos e outros anexos na conjuntiva bulbar (seta). Alguns casos atingem a córnea e causam ceratite e conjuntivite secundárias graves, motivo de intenso incômodo para o portador.

#### Figura 5.23 – Coristoma cutâneo na língua. Cão.
Note a presença de pelos no sulco mediano da língua deste animal. Não foram observados sinais clínicos atribuíveis a este coristoma. Foto: Dra. Gisalda Bortolotto, Curitiba/PR.

#### Persistência de Estruturas Fetais
Certas estruturas, normalmente presentes apenas no feto ou recém-nascido, não involuem como o esperado e persistem na vida adulta (por exemplo, foramen ovale [ducto de Botal], que conecta os dois átrios cardíacos; divertículo de Meckel; persistência da lobulação fetal nos rins; persistência dos canais de Wolff ou de Müller no ovário ou testículo; persistência do úraco). Esta última é relativamente comum em potros, que manifestam a lesão pela região ventral do abdômen sempre úmida e com cheiro de urina.

#### Hermafroditismo
Hermafroditismo é a ambiguidade das características morfológicas sexuais ou a indefinição sexual da genitália. O hermafroditismo é dito verdadeiro quando as gônadas de ambos os sexos estão presentes no mesmo indivíduo, seja como dois órgãos separados, isto é, um testículo e um ovário, ou as duas gônadas unidas em um mesmo órgão, o ovoteste. O hermafroditismo é dito falso, ou pseudo-hermafroditismo, quando as gônadas são de um sexo e a genitália tem características mais ou menos compatíveis com o sexo oposto.

#### Freemartin
Freemartin é um tipo de pseudo-hermafroditismo que ocorre quase exclusivamente em bovinos. Freemartin é o indivíduo fêmea de um par de gêmeos de sexos diferentes. Partos gemelares ocorrem em 1 a 2% das gestações em bovinos e, em 95% dos casos de fetos de óvulos diferentes, existem anastomoses entre as circulações das placentas, uma probabilidade muito maior em vacas que em outras fêmeas domésticas. Quando os embriões têm sexos diferentes, os hormônios masculinos, que aparecem mais cedo, atingem o embrião fêmea por intermédio das anastomoses placentárias e causam sua masculinização. Ao nascer, a vagina, a vulva e o vestíbulo são hipoplásicos ou atrésicos e o clitóris é aumentado; vestígios de vesículas seminais sempre estão presentes (Fig. 5.24) e o indivíduo apresenta uma proeminente prega cutânea ventral mediana entre o umbigo e a vulva. As glândulas mamárias não se desenvolvem. Essa alteração ocorre também em ovinos e caprinos, mas apenas raramente, isto é, em menos de 1% dos partos gemelares com produtos de ambos os sexos. Em equinos, essa alteração é praticamente impossível porque gestações gemelares quase nunca chegam a termo nessa espécie. Não existem dados sobre outras espécies animais.

#### Desenvolvimento Excessivo
Certas partes do corpo são maiores em tamanho ou em número. Para sua nomenclatura, quando maiores em tamanho, recebem o prefixo *macro*; quando maiores em número, recebem o prefixo *poli* (por exemplo, macroglossia [Fig. 5.25], macrocefalia, polidactilia, politelia [tetos mais numerosos, importante em vacas leiteiras], polidontia [ou poliodontia], etc.).

#### Figura 5.24 – Freemartin. Vaca.
Esta foto mostra os órgãos genitais internos de uma vaca Freemartin. Note a hipoplasia da vagina, do útero e dos ovários e a presença de vestígios de vesículas seminais (setas). Foto: Dr. John King, Ithaca/EUA.

#### Figura 5.25 – Macroglossia. Leitão recém-nascido.
O sufixo *macro* é empregado para designar uma parte maior que o normal, no caso a língua. Estruturas mais numerosas que o normal são designadas pelo sufixo *poli*.

### Anomalias de Manifestação Tardia
Embora a causa seja congênita, a manifestação de certas anomalias só ocorre posteriormente ao nascimento, com o desenvolvimento do indivíduo. Essas anomalias não pertencem integralmente ao capítulo da teratologia e algumas delas são hereditárias. Algumas têm grande importância econômica e são muito relevantes em medicina veterinária, como acondroplasia, criptorquidia, hérnia inguinoescrotal e hérnia umbilical.

 

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