16 werner patologia geral aplicada a veterinária
## Figura 5.8 – Anencefalia.
O diagnóstico de anencefalia nesses casos é um diagnóstico clínico macroscópico e, de certa maneira, tradicional. É evidente que o filhote sobreviveu durante algumas horas, prova que o tronco encefálico, ou pelo menos parte dele, estava presente. Assim, da mesma maneira que na Figura 5.7, o diagnóstico mais correto seria aplasia do telencéfalo (hemisférios cerebrais).
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### Figura 5.9 – Atresia anal. Suíno.
A atresia anal é uma forma de aplasia segmentar localizada na porção terminal do reto e que atingiu o ânus. A maior frequência desses casos é em suínos, que, surpreendentemente, podem sobreviver por várias semanas sem defecar. É evidente que seu desenvolvimento é bastante comprometido e eles exibem grave dilatação abdominal. Por razões econômicas, não se procede à correção cirúrgica do problema.
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### Figura 5.10 – Atresia da vulva. Bovino.
A atresia da comissura vulvar é relativamente comum em bezerras Freemartin (ver Fig. 5.24). Neste animal, o meato urinário abria-se na parte mais inferior da vulva (seta).
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### Figura 5.11 – Atresia do meato prepucial. Cão.
Esta é uma alteração muito rara; o que é comum é a estenose do meato ou fimose. Enquanto este filhote estava no útero, a eliminação da urina se dava pelo úraco; após o nascimento, a urina passou a se acumular no prepúcio, que aqui aparece distendido por urina. Uma cirurgia muito simples corrigiu o problema.
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### Aplasia do Corno Uterino
A aplasia do corno uterino (Fig. 5.12) tem importância adicional por sua implicação na patogênese do útero unicorne em qualquer espécie doméstica. Como é possível observar na Figura 5.13, que mostra útero unicorne em uma gata doméstica, ambos os ovários estão presentes, de maneira idêntica à figura anterior, que mostra atresia do corno uterino em uma bezerra. Evidentemente, com o crescimento do animal, os resquícios do corno ausente são incorporados ao ligamento largo do útero.
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### Figura 5.12 – Aplasia segmentar do corno uterino. Útero unicorne. Bezerra.
Este animal tinha alguns dias de vida quando morreu, e o diagnóstico da lesão foi absolutamente acidental. Note a presença de ambos os ovários e o que aparenta ser vestígio do corno uterino junto ao ligamento largo do útero.
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### Figura 5.13 – Útero unicorne. Gata doméstica.
O útero unicorne é uma consequência da atresia de um dos cornos uterinos. Note que, da mesma maneira que na Figura 5.12, ambos os ovários estão presentes, mas não se observam vestígios do corno uterino esquerdo.
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### Hipoplasia
Hipoplasia significa que houve desenvolvimento incompleto do órgão, isto é, ele não atingiu seu tamanho normal (*hipoplasia = pouco desenvolvimento*). Os casos de hipoplasia são comuns e, às vezes, pouco perceptíveis. Existem exemplos clássicos em medicina veterinária, como a hipoplasia do cerebelo em bovinos, causada pela infecção da gestante pelo vírus da diarreia bovina, ou em gatos, causada pelo vírus da panleucopenia (Fig. 5.14), ou a hipoplasia da genitália em bezerras ou vacas Freemartin. A irrigação inadequada, a inervação deficiente ou mesmo a ação ou ausência de ação hormonal podem causar hipoplasia da região dependente. Outras causas são genéticas e os portadores podem transmitir a condição aos descendentes (por exemplo, hipognatia [braquignatia], focomelia, microftalmia).
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### Figura 5.14 – Hipoplasia do cerebelo. Gato doméstico.
Note que a metade direita do cerebelo é menos desenvolvida que a metade esquerda. Em felinos, a infecção da gestante pelo vírus da panleucopenia felina pode causar hipoplasia do cerebelo no feto. O mesmo acontece em fetos bovinos cujas mães foram infectadas pelo vírus da diarreia viral bovina. Em virtude das funções do cerebelo na deambulação e no equilíbrio, a hipoplasia só é diagnosticada clinicamente em gatinhos após o segundo mês de vida, ao contrário de bovinos, nos quais as alterações clínicas tornam-se evidentes logo após o nascimento.
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### Fissuras na Linha Mediana
A fusão incompleta dos folhetos embrionários resulta em uma fenda na linha mediana ventral do corpo, ao passo que a fusão incompleta da prega neural resulta em fendas na linha mediana dorsal (Figs. 5.15 e 5.16). Para a nomenclatura das fendas ou fissuras congênitas, agrega-se o sufixo *squise* (fenda) à raiz que indica a região afetada (por exemplo, craniosquise, palatosquise, gnatosquise, esquistofrax, raquisquise [espinha bifida]). Quando a fenda é na uretra peniana, a nomenclatura é diferente: epispádia ou hipospádia, quando a fenda é dorsal ou ventral ao pênis, respectivamente. A fissura na linha mediana ventral, a esquistossomia, merece destaque. A esquistossomia (literalmente, corpo fendido) pode ser leve ou discreta, com apenas alguns centímetros de extensão, ou extremamente grave, atingindo toda a linha mediana do tórax e abdômen. No primeiro caso resulta em hérnia congênita de algumas alças intestinais, em geral na região umbilical (Fig. 5.17), algo de correção cirúrgica relativamente simples. No segundo caso, toda a linha mediana, representada pelo esterno e a linea alba, não se funde e as cavidades torácica e abdominal permanecem abertas. Em razão da contratura da musculatura da região dorsal sem a oposição do esterno e da linea alba, todo o corpo do feto, incluindo os membros, curva-se para trás, expondo todos os órgãos internos, daí o nome: *schistosoma reflexus* (Fig. 5.18). O feto sobrevive normalmente até o momento do parto, mas morre logo após, sendo qualquer intervenção cirúrgica corretiva absolutamente impossível.
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### Figura 5.15 – Fenda palatina primária e secundária (queliopalatosquise). Cão.
Quando a fenda atinge apenas os lábios e alvéolos dentários, é considerada primária; quando atinge o palato ósseo, é secundária. Este caso é particularmente grave. Em geral, animais com este tipo de alteração morrem em decorrência de pneumonia por aspiração de alimento, sobretudo de leite. O leite, por ser proteico e de origem animal, quando aspirado, causa uma das formas mais graves de pneumonia.
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### Figura 5.16 – Craniosquise e meningocele. Equino.
A craniosquise resulta do não fechamento do tubo neural sobre o crânio, permitindo a herniação das meninges. O mesmo pode acontecer na coluna lombar e sacral, quando os arcos dorsais de uma ou mais vértebras não se formam e permitem hérnia das meninges e nervos (espinha bifida). Foto: Dr. Arnaldo Garcez de Barros Jr., Curitiba/PR.
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### Figura 5.17 – Fenda abdominal congênita (esquistossomia). Bovino.
A fenda abdominal, ou gastrosquise, resulta da não união parcial dos folhetos embrionários para a formação da línea alba próximo ao umbigo. No caso aqui representado, houve exteriorização de algumas alças intestinais, caracterizando hérnia congênita, que foi corrigida cirúrgicamente logo após o nascimento do bezerro.
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### Figura 5.18 – Schistosoma reflexus. Bovino.
Esta alteração pode ser considerada o grau máximo de fenda toracoabdominal. Os folhetos embrionários não se fundem em toda a extensão do tórax e abdômen e, por conseguinte, todos os órgãos abdominais e torácicos permanecem expostos. Devido à falta de oposição representada pela integridade da parede torácica e abdominal, a contratura dos músculos dorsais do animal causa retroflexão dos membros em direção dorsal. O bezerro nasce vivo, mas morre imediatamente após o parto.
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### Fusão de Órgãos Pares
Ocorre fusão de órgãos pares quando órgãos que deveriam ser separados apresentam-se unidos, por exemplo, ciclopia e rim em ferradura. A ciclopia caracteriza-se pela presença de um olho grande e deformado no centro da face. Em ovelhas, o consumo de *Veratrum californicum*, no primeiro terço da gestação resulta em graves defeitos faciais, dentre os quais a ciclopia (Fig. 5.19). No caso dos rins, existe fusão de seus polos anteriores ou posteriores, o que lhes dá o nome de rim em ferradura ou rim arcuato (Fig. 5.20). A lesão não causa alterações clínicas e o diagnóstico quase sempre é acidental durante necropsia, abate, exames radiográficos ou ultrassonografia.
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### Figura 5.19 – Ciclopia. Feto ovino.
Este feto, cuja mãe foi alimentada com *Veratrum californicum* em torno do 14º dia de gestação, apresenta grave deformação na face e ciclopia. Ciclopia é a presença de uma estrutura ocular única, grande e deformada no centro da face, resultante da fusão dos dois globos oculares.
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### Figura 5.20 – Rim em ferradura. Gato.
União dos rins por um dos polos. Essa união pode ser muito tênue. A alteração, que ocorre em qualquer espécie animal, não causa sinais clínicos e seu diagnóstico quase sempre é acidental, durante necropsia, abate ou laparotomia.
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### Deslocamento de Órgãos
O deslocamento de órgãos constitui as distopias ou ectopias congênitas, em que o órgão se desenvolve em local anômalo. Isso não deve ser confundido com as paratopias, discutidas no Capítulo 2. São exemplos a ectopia cordis cervicalis e as heterodoxias, vísceras em posição anômala, mas simétrica, como a dextrocardia e a persistência do arco aórtico direito. Esta última ocorre, por exemplo, em cães, onde o arco aórtico direito persiste e o esquerdo desaparece, resultando em uma aorta que passa pelo lado direito do esôfago e traqueia, causando compressão dessas estruturas.
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### Conclusão
O documento aborda as adaptações celulares às agressões, como atrofia, hipertrofia, hiperplasia, metaplasia e displasia, além de discutir as anomalias no desenvolvimento, incluindo malformações genéticas e adquiridas, classificações de monstros e hemiterias, e alterações no tamanho e posição de órgãos. O texto é rico em exemplos e ilustrações, fornecendo uma visão detalhada sobre os processos patológicos e suas implicações na medicina veterinária.
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Este é o conteúdo completo do documento fornecido.