6 werner patologia geral aplicada a veterinária
**Página 4**
# Etiologia 23
**Queimadura solar**
A exposição excessiva da pele não protegida ao sol provoca queimaduras que podem ser de primeiro, segundo e até terceiro graus. Muitos animais desenvolvem lesões crônicas resultantes de exposições repetidas.
**Dermatite solar**
Resulta da exposição repetida da pele não protegida à luz UV. Comum no dorso do nariz (*collie nose*) e nas áreas de pele clara de cães (ver Fig. 2.2), nas orelhas de gatos e ovelhas brancos, no dorso de porcos Landrace ou Large White e na pálpebra inferior e vulva de bovinos de raças europeias. A consequência mais comum é a ceratose actínica, que pode evoluir para neoplasias cutâneas (Fig. 2.7).
**Neoplasias**
A radiação UV é responsável por grande número de neoplasias cutâneas, principalmente em regiões de pele clara com sinais prévios de dermatite solar. Essas neoplasias, geralmente carcinomas basais ou espinocelulares, aparecem com maior frequência nas orelhas de ovelhas e gatos brancos e nas pálpebras e vulva de algumas raças bovinas (Fig. 2.7).
**Fotosensibilização**
É a hipersensibilidade adquirida à luz solar, isto é, a pele que era resistente torna-se sensível aos raios UV em razão da deposição na pele de um agente “fotodinâmico”. Agentes fotodinâmicos são substâncias que, quando expostas à radiação UV, emitem luz em comprimento de onda diferente ou liberam radicais livres que lesam os tecidos. A fotossensibilização é um dos sinais clínicos mais importantes em herbívoros portadores de lesão hepática grave (Fig. 2.8). A fotossensibilização de origem hepática em herbívoros é causada pela filoeritrina, um composto tóxico fotodinâmico formado no intestino a partir da clorofila. Em situações normais, a filoeritrina é neutralizada no fígado, mas na vigência de hepatopatia grave ela deixa de ser neutralizada e se deposita nos tecidos, causando a queimadura solar. As substâncias que causam fotossensibilização são discutidas com mais detalhes no Capítulo 6.
**Figura 2.7** – Carcinoma epidermoide na vulva. Bovino. A pele da vulva de bovinos da raça Holandesa Preto e Branco é frequentemente acometida por carcinomas epidermoides (seta) causados pela irradiação ultravioleta da luz solar. A lesão prévia é a ceratose actínica, que, nesta imagem, aparece como áreas de espessamento (hiperceratose) da pele vulvar (pontas de seta). Note também que as lesões restringem-se à pele despigmentada.
—
**Página 5**
**Figura 2.8** – Fotosensibilização de origem hepática. Bovino. Este animal, anteriormente saudável, repentinamente passou a exibir sinais de queimadura solar na pele caracterizados por eritema e descamação do epitélio, mais intensos nas áreas de pelagem branca (detalhe). Neste caso, a fotossensibilização deveu-se à deposição na pele de filoeritrina, um agente tóxico fotodinâmico originado da clorofila e cuja destoxificação é feita pelo fígado. A necropsia revelou doença hepática grave causada por consumo de plantas tóxicas.
**Eletricidade**
A passagem de corrente elétrica pelo corpo pode provocar lesão de três maneiras diretas:
1. **Queimaduras**, consequentes ao aumento de temperatura local;
2. **Fibrilação e parada cardíaca**, quando o coração está interposto no curso da corrente elétrica pelo corpo;
3. **Alterações no padrão elétrico do cérebro**, quando a passagem da corrente elétrica atinge o encéfalo, causando convulsões, perda de consciência e parada cardíaca por lesão cerebral (Fig. 2.9).
Desde que precedida de sedação, a eletrocussão pode ser utilizada como método para eutanásia de animais.
**Outros Agentes Etiológicos**
Muitos fatores, como agentes químicos (tóxicos) e biológicos (parasitas, fungos, bactérias e vírus), causam doenças. O estudo detalhado desses agentes ultrapassa os objetivos deste livro. Contudo, lesões básicas resultantes de sua ação serão estudadas nos capítulos subsequentes.
**Figura 2.9** – Eletrocussão acidental. Lobo-guará (*Chrysocyon brachyurus*). Este é o mesmo animal das Figuras 2.5 e 2.11. Este animal havia sido atropelado e, após algumas semanas de internação hospitalar, quando estava quase completamente recuperado, conseguiu fugir da gaiola, alcançar e morder o fio que alimentava o aquecedor elétrico da sala. Felizmente, a morte aconteceu por parada cardíaca e foi extremamente rápida.
—
**Página 6**
# Causas Mecânicas
Mecânica é a ciência que trata dos movimentos. Assim, várias alterações patológicas muito importantes podem ser estudadas sob esse tópico: os traumas, os deslocamentos e as obstruções. São lesões básicas, comuns a todos os tecidos e órgãos e a todas as espécies animais, e, portanto, também estudadas na patologia geral. Em vista de sua importância, um tópico especial deste capítulo é dedicado a elas.
**Trauma**
Trauma, ou traumatismo, é a lesão resultante de uma ação mecânica, e deriva da palavra grega que indica ferimento. Outro emprego correto da palavra *trauma* é para designar as eventuais alterações psicológicas resultantes de uma agressão emocional muito forte, mas esse enfoque não tem lugar neste livro. Voltando à patologia, muita gente chama de trauma a força que produz a lesão, dizendo algo como “essa contusão resultou de um trauma”. Atenção, isso é errado! Trauma é a contusão, não o golpe que a produziu.
**Mecanismos do Trauma**
Ferimentos são, portanto, o resultado de uma força mecânica agindo sobre os tecidos. Por um simples entendimento das leis da mecânica, sabe-se que esse resultado depende do tipo e da intensidade da força aplicada e da resistência e da massa do tecido sobre o qual ela agiu. Assim, qualquer tipo de ferimento é, de certa forma, previsível quando aquelas variáveis são conhecidas.
Raciocinando inversamente, ao examinarmos determinado ferimento presente em determinado tecido, podemos deduzir que tipo de força ou instrumento o produziu. Essa é a base do que discutiremos a seguir: os principais traumas e suas características morfológicas, correlacionando-os com o tipo de instrumento ou força que o produziu. O estudo das imagens e das legendas das figuras que ilustram as lesões discutidas fornecerá informações adicionais e complementares importantes.
**Contusão**
Contusão é a lesão resultante do golpe de um objeto não pontiagudo e não cortante que não penetra a pele ou a superfície que recebeu o golpe. Devido à sua resistência e/ou elasticidade, a superfície permanece íntegra e a lesão aparente, geralmente hemorragia focal, ocorre nos planos mais profundos. Contusões são observadas no tecido subcutâneo, na musculatura, no encéfalo ou em muitos outros órgãos internos (Fig. 2.10). À necropsia, muitas vezes as contusões só se tornam evidentes após a remoção da pele, sobretudo em animais de pelagem espessa ou pele escura. Até mesmo contusões muito graves são, com frequência, inaparentes ao exame externo.
**Figura 2.10** – Contusão do epitélio perilaringiano. Bovino. As incisões evidentes na foto foram feitas durante a necropsia do paciente. O epitélio da faringe e o esôfago (*) foram parcialmente afastados da laringe (**), exibindo áreas hemorrágicas no tecido subjacente (pontas de seta). As características morfológicas da lesão, isto é, superfície intacta e lesão presente apenas nos tecidos profundos, garantem o diagnóstico de contusão. Essa lesão resultou de repetidas tentativas de passagem de sonda esofágica pouco flexível.
—
*